sábado, 17 de novembro de 2007

Eterno Retorno

Salpicam-me o rosto as gotas de água salgada, como sangue vertido pelo mar que rasgo agora com a quilha enquanto rumo a um porto qualquer. Salgadas, as gotas, como as lágrimas que não verti no momento em que percebi o quanto me sinto a vaguear sem norte em busca da resposta ao que ainda nem sei perguntar.

Juro que não chorei no dia em que te dei por perdida, eu próprio já de partida para um outro lugar onde pudesse aportar as emoções resguardadas em doca seca da fúria de um temporal interior.
A força necessária para renegar um amor impossível como o demonstravas de cada vez que me deixavas a sós com o desconforto de um ciúme que nunca tolerarias e por certo abusarias se dele te desse conta de alguma forma.

A única coisa que transtorna é a perturbadora constatação de ter a bússola viciada, pois sempre que vou de abalada gravo na lembrança o caminho de regresso.E sempre que me despeço deste amor encrespado, em busca de um resguardo, a âncora imaginária que me agarra à tua memória (e me arrasta sempre de volta à sensação poderosa que um beijo teu me dá) transforma sempre cada adeus num simples até já.

10 comentários:

M disse...

Maravilhosamente bem escrito. É espantoso como tens mil maneiras de descrever o mesmo sentimento. Porque não envias tudo para uma editora, em vez de publicares num blog?

CatDog disse...

És generosa, Medusasss, mas não me tenho assim em tão boa conta...
E os critérios das editoras não passam por caminhos percorridos por emoções.

M disse...

Não posso falar em nome de editoras, mas diz-me ao menos que já tentaste...

CatDog disse...

Já. Mas num registo diferente deste e com um livro que não tinha "o número de páginas suficiente para se enquadrar nos moldes daquela editora" (são porreiros a fornecerem estas desculpas pueris para a sua preferência por traduções de autores estrangeiros, consagrados ou simplesmente cidadãos muito badalados nos telejornais).
Para me vingar desse enxovalho estou a escrever um romance do qual resultará o primeiro nobel atribuído na sequência de uma edição de autor. :)

CatDog disse...

(E se mantiver este pseudónimo, até pode ser que consiga o patrocínio do canal Nickelodeon...)

M disse...

Uau!
Fiquei sem palavras!
Se depois precisares de uns trocos, os moribundos fazem uma vaquinha (louca). :)

CatDog disse...

Gosto muito de BSE. Bem gelada (a garrafa louca).
Obrigado pelo voto de confiança (eu prometo que passo recibo pra meterem nas despesas do blog).

Rafeiro Perfumado disse...

O teres a bússula viciada pode explicar o porquê de não conseguires dar com o norte...

CatDog disse...

Olha, pois é. Não tinha visto as coisas sob essa tua óptica sempre tão pragmática, Rafeiro.
No fundo, tenho mesmo é que comprar a porra de um GPS prá traineira a ver se não navego em círculos e atino de uma vez com o porto de abrigo ideal...

M disse...

Por outro lado há quem goste de andar perdido... nunca se cabe a que porto a ventura nos leva a aportar.
Quanto aos recibos, dá jeito, obrigadinho. Com um golpe de mestre ainda ponho como despesas de mecenato e apanho uns benefícios fiscais.