sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Sinceramente

Haverá algo mais puro que a sinceridade?
E essa, será que ainda a tenho?

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Respirar

De cada vez que chegas perto, de cada vez que me tocas, de cada vez que me falas, esqueço-me de respirar.
A ti me entrego, perto dos teus braços, mais perto do teu coração.
Somos uno, na paixão dos corpos, no delírio dos corpos.
Não respiro enquanto me desabotoas a camisa e sinto os teus lábios cada vez mais perto dos meus.
É como se cada suspiro teu fosse todo o ar que preciso para respirar.
Tiras-me o fôlego, levas-me a palavra, pões-me um sorriso e roubas-me o coração.
A ti me dou, em ti me perco. Em mim te abres, te explicas.
Sem palavras, explicas-me onde começa a paixão, de que matéria é feita.
E, de todas as vezes, tiras-me o ar, mesmo sem palavras.

Laços sem Nó

Percebo-me, aos poucos, de costas voltadas para o sol.
Hesito até parar.
Depois começo a recuar, tacteando a berma do passeio com a traseira dos pés.

Percebo-me, aos poucos, saturado de esperar.
E começo a caminhar rumo a um futuro alternativo, paciência, enquanto o escreves pelo teu punho com a palavra ausência.

sábado, 24 de novembro de 2007

Não Sei Como Se Faz

Tento evitar que me fuja o olhar para a janela de onde me espreitas com a mesma expressão que outrora me arrastou para o centro da nossa tormenta a dois.
Tento resistir ao apelo que me lanças mas não consigo ignorar a minha alma a gritar nem hesites por um segundo.

E eu respiro fundo, resignado na aparência, aliviado na evidência dos meus passos apressados para a porta do edifício que surge aos meus olhos com toda a luz dos portões do meu céu.
Sinto-me teu e receio alguma forma de prisão a que me condene o coração pelo pecado de te querer tanto assim.
Saio fora de mim e flutuo ao longo da estrada que me queria afastar da tua influência, não a sigo mas atravesso-a enquanto mais acima a tua janela agora fechada me recorda como és bela encostada ao umbral da porta que cruzarei.

Lá dentro encontrarei o corpo incandescente da minha loucura amante e depois esquecerei no calor dos teus lençóis a vontade fingida de te querer esquecida, como me provo incapaz.

Porque afinal não sei como se faz.
O amor sem ti.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Abrir a Janela


Fugazes são os raios do sol.
Fugazes como a tua presença.
Simples, modesta, grandiosa.
Como o teu sorriso.
Iluminada de todas as cores.
Cores essas que me enchem a alma e aquecem o coração.
Como um aconchego numa noite fria
Em que os teus lábios tocam os meus
E as tuas mãos atropelam o meu pensamento
Na sofreguidão dos corpos unos
Que somos, um só.
Ontem compreendi
O maior segredo de todos.
Não é De Mim
É de Nós.
Basta abrir a janela e deixar os raios de sol entrar.
Raios esses que, ainda fugazes, chegam para me irradiar o espírito.
E Amar-te cada vez mais.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

De mim


Hoje cheguei a esta casa e tudo estava diferentemente igual. Os meus passos já não são os mesmos, pois não encontram nos teus olhos o término do eco que me denuncia a chegada.

O meu sorriso não tem a resposta que gosto de ouvir, apenas as paredes frias encontram no meu olha um parceiro inigualável em vazio. Tal como elas, os retratos que tirei ao longo da nossa vida foram retirados da memória e guardados no fundo da gaveta das recordações.

Estes quadros eram como retratos, que se afiguravam de cores e cheiros por cada palavra tua, por cada troca que entre nós se dava. Troca essa que dizes ter fim e só encontrar caminho para o meu lado.

Se sou egoísta? Sim, porque pensei em ti não como em nós, mas como em mim. És o que para mim quero, mas ao contrário: que eu seja o que para ti queres. Inevitavelmente. Irremediavelmente.

Só hoje percebi que isso já acontecia antes de eu o desejar. E foi por cobiçá-lo que te perco no longe, com a vista toldada de ambições desmedidas e sem nexo, onde tu não estás senão quando quero. Mas hoje percebi que o amor não é quando queremos, é quando aparece. E quando aparece é eterno, desta forma contínuo. Até que se acabe.

Até que se acabe. Sem idas e retornos, mas em proporcionalidade directa às partilhas e memórias conjuntas. Memórias passadas e acções presentes. Mais que acções decisões. E em casa decisão, não só eu mas tu. Para sermos dois.

Assim escrevo como me sinto. Desconexada. Confusa. Porque sinto-me vazia perto de ti. Vazia de mim. Contigo a preencher-me cada recanto desta sala escura com luz, que denuncia o quanto estou só em mim mesma.

Não serão, pois, lágrimas de tristeza. Mas de egoísmo ressentido, porque o orgulho não o conseguiu acompanhar.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Partir à Chegada


Percorro o cais ansioso no limite da minha visão periférica, enquanto descarrego o lastro remanescente da última viagem à tua presença simbólica.

Sem pressa, constato entretanto que à falta sentida se sobrepõe uma fé esquecida nos confins de um bau. Como um mapa carcomido pelo tempo, demasiados espaços em branco ao longo do caminho que se poderia traçar em teoria.


O tesouro que representa o renascimento de um homem saturado de monólogos medievais, de conversas desperdiçadas com os botões de camisas outrora desapertadas com enorme destreza pelas tuas mãos.


E a ansiedade desvanece na minha mente como a neblina no horizonte na agonia da madrugada à mercê do sol a nascer. Eu fixo o olhar numa estrada, recordo a euforia passada e o meu corpo transforma-se de repente, masculino, num imparável acelerador.

sábado, 17 de novembro de 2007

Eterno Retorno

Salpicam-me o rosto as gotas de água salgada, como sangue vertido pelo mar que rasgo agora com a quilha enquanto rumo a um porto qualquer. Salgadas, as gotas, como as lágrimas que não verti no momento em que percebi o quanto me sinto a vaguear sem norte em busca da resposta ao que ainda nem sei perguntar.

Juro que não chorei no dia em que te dei por perdida, eu próprio já de partida para um outro lugar onde pudesse aportar as emoções resguardadas em doca seca da fúria de um temporal interior.
A força necessária para renegar um amor impossível como o demonstravas de cada vez que me deixavas a sós com o desconforto de um ciúme que nunca tolerarias e por certo abusarias se dele te desse conta de alguma forma.

A única coisa que transtorna é a perturbadora constatação de ter a bússola viciada, pois sempre que vou de abalada gravo na lembrança o caminho de regresso.E sempre que me despeço deste amor encrespado, em busca de um resguardo, a âncora imaginária que me agarra à tua memória (e me arrasta sempre de volta à sensação poderosa que um beijo teu me dá) transforma sempre cada adeus num simples até já.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Fantasia

A imaginação requer mais que a fantasia.
Na fantasia, tudo fica como é, pois tudo acontece noutro local, noutro espaço, noutro tempo.
Na imaginação, projecto-te num futuro próximo, tão próximo como estão as ondas do mar da areia e tão fugaz quando a canção que elas sussurram e que de longe, torna tudo tão perto.

Perfeitos eram os dias que sorrias perto do meu sorriso, em que os teus olhos reflectiam os meus. Agora sorris, mas longe. Junto de qualquer outro sol. Em qualquer outra praia.

Onde as ondas que vêm a meus pés já não são as mesmas, são outras, menos límpidas, menos claras como o difuso que te sinto. Dizes que não é certo, que estou errada. Mas dize-lo lá longe, do recanto em que o teu coração se encontra e o teu pensamento está.

Mas espero. Porque ainda que essas ondas não me tragam as harmonias de outrora, resta-me a fantasia.
A fantasia de te imaginar aqui, comigo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Deste Lado

Deste lado da mesa onde me confronto com a tua ausência, olhar pousado na cadeira vazia que te competia ocupar, perscruto por entre o fumo de uma baforada desiludida cada silhueta à entrada do nosso bar habitual.
E sei que faço mal em aceitar esta ansiedade que me corrói com uma estranha saudade de alguém que afinal ainda não partiu.

Por isso balanço no copo as pedras de gelo enquanto lhes sorvo a frieza das palavras que pretendo dirigir, no momento de me despedir, à tua insolência.

E abdico da interferência do coração tolerante em abono de um desassossego motriz que me arrasta cada vez mais infeliz para longe de uma paixão que tornaste, com a tua displicência, tão disparatada quanto imerecida.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Cúmplice Algoz

Puniste-me, implacável, com a frieza do teu desdém. Castigaste-me pelo pecado de vergar demasiado aos caprichos que inventavas, de propósito, para daí resultarem os pequenos instantes de humilhação com que me quebravas pela espinha o orgulho e esmagavas aos poucos os escassos ecos de resistência no meu coração.

A minha punição, em lume brando, resultou da sentença que ao meu sentimento de pertença aplicou a tua sede libertária de independência total.
Foi o juízo final de uma condenação definitiva, tombado o amor às mãos frias do traidor que te descobriu vingativa.

No dia em que fechaste nas suas costas a porta do calabouço em que definho, a masmorra do remorso que adivinho no extremo oposto da equação onde te encontras, igualmente a cumprir pena pelo excesso cometido por esse despeito bandido que nos fez cair do céu.
E nessa perspectiva, este terrível castigo acaba também por ser o teu.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Dissimulada

Dissimulada. À tua maneira.
Dissimulada. No obsoleto das tuas indecisões, na chamada às minhas preces, vens. Como se nada fosse, como se não houvesse tempo. Pelo mesmo caminho retornas, sem qualquer explicação.
Dissimulada é como me queres. Para os teus números de aparências e puzzles criminais de charme e boa-ventura.

Dissimulada é como me encontro. Sigo as tuas palavras como se fossem ordens, chego ao final delas e vejo que não trazem nada.

Dissimulada, finjo.
Até para ti.

domingo, 11 de novembro de 2007

Vias de Facto

E um ponto de partida tão imenso torna-nos ambiciosos quanto ao ponto de chegada que desconhecemos mas nos impulsiona a vontade de alcançar o céu, com o engenho tecnológico ou simplesmente embarcados nas asas da imaginação.

As palavras podem ser naves espaciais ou tapetes mágicos ou qualquer outro meio de transporte para o que as reflexões, as ideias, as emoções produzem neste espaço infinito cujo firmamento se constitui a partir do acto de criação. Aquilo que brilha em nós, sempre que nos revelamos capazes de ultrapassar a mera vontade de ir um pouco mais além e tentamos moldar, como aprendizes de alquimista, a química de novos elementos de um planeta distante (o nosso, às tantas) onde a frustração se substitui pela ilusão que a beleza das palavras sustenta. Ou como aspirantes de astrónomo, em busca de novos espaços e diferentes dimensões para descobrir.
Muitas respostas encontram-se por essa via, tão simples.

E muitas perguntas tornam-se assim absolutamente supérfluas.
Mas nem por isso desnecessárias.

O Início

No início havia o Homem, a Mulher e todos os outros animais.
De todos e desde sempre, só ele e ela questionaram a existência. A existência de todas as coisas. A sua própria existência.
Que somos nós sem a essência que nos caracteriza, que nos leva ao pensamento, à descoberta e à frustração? Frustração esta que nos leva à insatisfação, que nos exige mais, cada vez mais..
Que faz de nós ser quem somos.
Que faz do Universo apenas o ponto de partida.