sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Emoção Clandestina


Vejo folhas amarrotadas de um calendário, tombadas sobre o tampo de uma mesa como as que lá fora já forram o chão que há muito não pisas.
Vejo dias desperdiçados com o vento de feição e o veleiro no meu coração em doca seca, apontado como uma seta para o horizonte sem fim, à espera de um corte no cordão umbilical que o prende a uma âncora imaginária que agora parece feita de papel.

Como o das folhas amarrotadas, numa mesa pousadas para marcarem a passagem do tempo num tiquetaque sem quartel. À espera de um sinal que tarda a chegar e eu preciso muito de embarcar na próxima maré favorável.
Esta sensação desagradável de olhar para o calendário prestes a esgotar as munições, como a árvore despida lá fora, recorda-me que se aproxima a hora de dar início a um recomeço como todos os que definimos, arrogantes, redundantes, sem podermos sequer ter como adquirida uma continuação.

E eu alimento uma ilusão (des)necessária, escondida nos bolsos de uma história que tento alimentar à socapa da realidade que me atraca ao teu porto de abrigo que, na verdade, não passa de um puro castigo.

O preço da minha indesculpável acomodação.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Um Feliz Natal...

... a todos vocês!*
Cat in Black e Black CatDog

Até Ti

Sigo as luzes com o olhar. Elas levam-me a ti.
Levam-me aos momentos em que nos olhámos e nos perdemos.
Na luz de um amor resplandecente e duradouro.
Aos poucos, percebemos que o significado de duradouro não deveria ser eterno, pois eterno nem a luz do Sol...
Eterno será até ao dia que quisermos, até ao dia em que nos quisermos.
Sigo as luzes, que elas levam-me até ti.
Os sorrisos, o frio, onde há sempre alguém para nos dar um conforto.
Espero por ti ao fundo, tento encontrar-te, no outro lado do mundo.
Quando penso que o meu olhar jamais te avistará, aí estás tu. Com o mesmo sorriso, com o mesmo olhar, com o mesmo amor.
E é nesse amor que me quero perder.
Porque esta quadra é feita de amor, não de luzes brilhantes, que ofuscam e nos toldam para aquilo que poderíamos pensar que seria um caminho para te encontrar.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Eternamante


Lembro-me, sim, que prometias caminhar até ao fim, comigo, por uma estrada completamente ladeada de árvores de fruto onde cantavam os pássaros que escuto na memória dos dias em que me permiti sonhar um amor genuíno.

Recordo também o destino que lias, cigana, nas palmas das minhas mãos, na cama, enquanto brincávamos com partes dos corpos a sério que transpiravam, pouco tempo depois, numa manta estendida à pressa no chão.
Era para sempre, dizias. Mas aos poucos desmentias pressupostos e acumulávamos desgostos na traição da tua ausência, muitos pesos na consciência que viraste como canhões contra o falso inimigo em que aparentemente me tornei.

Lembro-me que sonhei um dia o filho que te faria, o coração que me cegava e que tudo perdoava, a razão perdida numa discussão que abortava, pela evidência do meu engano, a loucura desse plano desesperado para te prender a mim de alguma forma.

Mas agora deixo que o sonho durma, enquanto finjo que me esqueço, de cada vez que me despeço, a verdade adormecida no encanto do teu olhar que já não reflecte o mesmo amor que me afirmavas nos dias quentes de que me lembro agora.

O sopro gelado de beijos distantes inspira-me um sentimento de vazio. E por mais que nos lembre amantes não consigo combater esse frio.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

De novo



Devagar.
Devagarinho.
Com pezinhos de lã.
Entras de novo no meu coração.
A aquecer-me a alma.
A trazer-me o conforto.
Como se um aconchego, um mimo fosse tudo e somente aquilo que preciso.
Aos poucos, volto a sentir a tua mão no meu peito, como se sempre ali pertencesse. Como se de uma luz se tratasse, para iluminar o meu coração.
Traças-me de novo o caminho. Até ti e não mais além. Dando-me o infinito, ainda assim.
E eu deixo.
Porque é maravilhoso.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Reina Comigo


Tornaste-te rainha sempre que deixaste de ser minha, do teu amante plebeu.
E eu sinto que morreu qualquer coisa neste pedaço de tempo morno em que entendeste reclamar o teu trono, no reino distante onde não consigo chegar, tão longe que nem persigo com o olhar a tua silhueta difusa no horizonte a que viro as costas desertor.

Sinto que morre parte do amor, atrofiado pelo ciúme que do meu lado vem a lume quando imagino o teu corpo deitado e preencho o espaço em branco a teu lado com o contraste bem negro da sombra de outro homem qualquer.

Procuro noutra mulher o gosto acre da vingança mas nunca abdico da esperança de um dia reinarmos a meias no teu castelo de onde jamais alguém saiu.
Porque só nas fantasias plebeias a ponte levadiça nunca existiu.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Regressar à Tona


Por dias senti-me perdida, apagada, cinzenta.
Tudo isso se deve à indiferença com que a vida passava por mim sem me perguntar para onde queria ir. Em vez de tudo isso, levava-me, ao sabor do vento.
Mas com esse vento agreste, frio, de sons agudamente desagradáveis, senti-me enredada numa teia da qual eu queria sair. Mas quanto mais esbracejante, mais presa. Na dúvida de que alguma vez poderia voltar. Como parti.
Para me proteger do vento mergulhei. Tão fundo que pensei não me encontrar mais.
No casulo aquático das profundezas da imensidade do mar reflecti.
Percebi que não devo esperar que a vida traga o vento.
Tenho de pedir e impor-lhe.
Na vontade de ser e de viver.
Regressei à tona, respirei tudo aquilo que os pulmões tinham perdido. Todos os cheiros. Todas as cores.
Estou preparada.

sábado, 8 de dezembro de 2007

(Des)Peito Aberto

Marcas a hesitação com o pêndulo de uma emoção desgovernada, numa hora a amada que despi e agora a menina assustada que me expulsa de ti, a outra que me quer.
E eu deixo-me arrastar, infantil, pela maré que criam as tuas luas e percorro sozinho as ruas em busca de consolos de circunstância que só me acicatam a tua falta, ainda mais.

Regresso sem orgulho, rastejo aos meus olhos e aos teus. O amor que te tenho calado, para minha defesa, simulado por detrás de uma espécie de véu que me priva desse céu na tua boca que sorri quando percebes o que senti enquanto deambulava a ira passageira.

Dispara o coração, de tal maneira acelerado pela privação que o acobarda ao ponto de me humilhar perante ti e eu perceber que é de vez, atraiçoado pela lucidez que me impede de fugir da vergonha também. Da expressão vencedora que tem esse olhar de matadora que me revolta.

Mas a paixão logo sufoca a rebelião com um beijo de fogo e os corpos tombados na cama onde por certo vingarei o vexame como um homem que não te ame tanto como eu, nem verdadeiramente te queira sequer.

Ou como outro qualquer.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Voltei

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Fui

Acaba Como Começou

Apareceste do nada, dizendo palavras poéticas, descontextualizadas.
Desconfiei, pedi a mim própria para desconfiar. Desconfiar como quem desconfia de um estranho na rua.
Que é o que és: um estranho.
Encontrei loucura nas tuas palavras, senti-me oprimida com a tua alma, tão impregnada de egocentrismo e expressões difíceis, as quais só lianos livros ou nas legendas de filmes melodramáticos.
Achei que o teatro tinha chegado à minha vida. A dramatização por ti representada era-me estranha, como aquilo que tu és.
Um estranho.
Um estranho que descobri depois que dizia palavras sussurradas, com tom cativante e sorrisos maravilhosos.
Estranhamente, aliei-me à tua loucura, contextualizei-a, mergulhei na tonalidade poética que davas à minha vida, aos poucos de cada vez, todos os dias.
Mas, se a sinceridade total é utopia ou manifesta a loucura, eu não quero ser louca em full-time.
Tolda-me o juízo, desvia-me do caminho que me custou a construir.
Tento não querer mais, não falar mais, não responder mais.
A um estranho.
Um estranho que tem de sair da minha vida como entrou: inesperadamente, radicalmente, estranhamente.
Para que eu possa estar em Paz.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Fogo Posto


Seguro-te o queixo com o indicador e disparo com o olhar as promessas que anseias concretizadas. O tiroteio iniciado quando ripostas, fogo cruzado, com uma munição que é fornecida pela paixão que te explico onde começa e tu me ensinas, o corpo por tutor, como ela se transforma aos poucos num amor que prefere ignorar o momento do seu fim.
Esta força dentro de mim que te seduz, dentro de ti, a mesma força que te possui, o desejo que nos funde as fantasias onde assumimos o papel principal.

Os cabelos desalinhados, os corpos colados, os dedos crispados, os medos dissipados enquanto o mundo inteiro decide parar em nosso redor.
O silêncio nos ouvidos de quem já só escuta o apelo interior, visceral, de um instinto animal assanhado que refinas com as carícias tão femininas e a expressão mais doce de que um olhar é capaz.
E eu luto pela paz como bombeiro sapador, enquanto nas tuas costas faço fogo e quebro as tréguas voluntárias num assalto à mão armada com pontas incendiárias.